Observo sempre com muita curiosidade a vegetação das terras por onde deambulo nas minhas viagens. Depois escolho uma das plantas encontradas, por uma questão de mera simpatia ou por a julgar mais significativa, para ser o alvo das minhas investigações botânicas.
Ora, estando mais de um mês no sul da China (ilha Hainan), qual foi a planta que aí encontrei mais abundante e representativa? Já calculam! Foi a do arroz, cereal que é a base da alimentação de 1400 milhões de chineses e de mais de metade da população mundial.
O arroz sempre me apaixonou e tenho para com ele um carinho e uma afinidade que vêm dos tempos de menino. O meu pai, embora analfabeto, concentrava um conjunto de saberes ancestrais e misteriosos que recebeu oralmente dos antepassados. Um dia, já perto do Natal, que para ele nada tinha a ver com o consumismo da festa da cristandade, trouxe da Barroca d’Alva umas sementinhas castanhas que colocou num pires com alguma água. Curioso, como sempre fui, todos os dias ia ver as sementes e acompanhei radiante a sua rápida germinação. Nasceu uma pequena seara de um verde tão bonito e mimoso, como jamais vira. E aí logo me dei conta de que estava perante algo imensamente mais sagrado do que os “meninos-jesuses” de todo o mundo, uma vez que “pais-natais” ainda não havia naqueles idos (que me desculpem os crentes mais radicais). 

A sensação do arroz como planta sagrada, tive-a, de novo, na China profunda, ao ver as searas amorosamente cuidadas e enquanto ia comendo arroz três vezes por dia durante um largo mês. Definitivamente, fiquei fã do arroz.

Há meia dúzia de anos comprei um livro que descrevia, tim-tim por tim-tim, este afamado comestível, terminando com dezenas de receitas. Emprestei-o a alguém e não voltei a reavê-lo. Paciência! Que a esse alguém lhe faça bom proveito, são os meus votos sinceros. Recordo, no entanto, que lá se referia o nosso país como o maior consumidor europeu do precioso cereal: 17 kg por ano, per capita. A seguir vinha a Espanha com 9 kg e muito atrás, todos os outros. Num almoço ocasional com o embaixador da Coreia do Norte perguntei-lhe, qual seria o consumo médio por pessoa na RPD da Coreia. Fez umas contas rápidas e de imediato me respondeu: 150 kg! 
Existem cerca de 8 mil variedades de arroz, mas basicamente elas integram sete espécies, sendo a mais conhecida a Oryza sativa (arroz asiático). Cada vez mais apreciadas são as variedades perfumadas, como o basmati, o jasmim, o vermelho e o dourado, este, manipulado geneticamente. Entre nós, as mais conhecidas são o carolino e o agulha.
 
Como se sabe, o arroz é uma gramínea de origem asiática. Julga-se que é usado como alimento há perto de 7 mil anos, fazendo parte do quotidiano dos países orientais que são, de longe, os seus principais produtores e consumidores.
A planta tem um cultivo anual em terras alagadas, mas pode sobreviver por vários anos nas regiões tropicais. 
O arroz é um dos alimentos mais equilibrados que se conhece. Contém hidratos de carbono, proteínas, vitaminas B1, B2, B3, cálcio, magnésio, manganés, fosforo, zinco, ferro, proteínas, pouca gordura e nenhum glúten. No que respeita às proteínas, é certo que não possui a totalidade dos aminoácidos essenciais, mas combina muito bem com todas as outras fontes proteicas.
O arroz integral, ou seja o arroz em que apenas se retira a casca exterior (celulose), ficando com uma película fina acastanhada, é o melhor para uma nutrição saudável. Essa película contém fibra e maior quantidade de proteína e de gordura, alimentando muito mais. Se bem mastigado, é de fácil digestão, combatendo o colesterol, a arteriosclerose, a diabetes, a prisão do ventre e outras disfunções do aparelho digestivo. Além disso, contém selénio que é um antioxidante natural que beneficia o sistema imunológico. Quem consome apenas arroz normal, leva algum tempo a habituar-se ao integral, mas depois acaba por o achar mais saboroso que o chamado arroz branco. 
Quanto às formas de cozinhar, elas variam muito, de país para país e de região para região. Na China o arroz é cozido a vapor o que, de entre outras vantagens, fica mais a jeito para ser comido com os tradicionais pauzinhos, como aliás, sempre assim fiz.
Para mim, que gosto dele bem cozido mas não empapado, a melhor maneira é usar o forno solar: uma parte de arroz para três de água, um pouco de azeite e uma pitada de sal, sol que baste e passadas 2 horas, está pronto. Vantagens: não esturra, não pega, não endurece e é claro, não se despende energia elétrica nem gás, o que, em tempos de aguda crise, não é de somenos. 
 Miguel Boieiro
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