Foram principalmente os Portugueses que, no século XVI, iniciaram uma verdadeira globalização da botânica, mormente das espécies de valor alimentar e terapêutico, ao transferirem plantas e sementes de Oriente para Ocidente e vice-versa, espalhando-as pelos cinco continentes. Lembrou-me um amigo goês que os nossos compatriotas levaram da Índia o café para o Brasil, onde era desconhecido. Hoje, o Brasil é o maior produtor mundial de café. Em contrapartida, trouxeram o caju, do Brasil para o subcontinente indiano e eis que atualmente a Índia é o maior produtor de caju. As navegações marítimas, “dando novos mundos ao mundo”, incrementaram e expandiram o intercâmbio das espécies. É exercício quase surrealista imaginar que na Idade Média os europeus sobreviviam sem batatas, tomates, feijões, abóboras, açúcar, café, chocolates … Seguidamente, as alterações climáticas, o comércio livre e os fenómenos da hibridação alargaram a proliferação das espécies pelas diversas regiões do planeta. Ainda me lembro dos tempos em que as bananas eram caríssimas e não chegavam à província. Foi há três dezenas de anos, se tanto, que provei, pela primeira vez um kiwi, fruta rara, diziam-me, que tinha trinta vezes mais vitamina C do que a laranja (!).
Desta feita, vamos abordar o chuchu, fruto-hortaliça, hoje vulgaríssimo, mas cujo cultivo era raro em Portugal até à primeira metade do século XX.
O chuchu, cuja nomenclatura científica é Sechium edule pertence à família botânica das Cucurbitaceae, como a abóbora, o pepino, a melancia ou o melão. É nativo do sul do México e dos países caribenhos onde se designa popularmente por chayote que, em língua indígena, significa “cabaça espinhosa”. Trata-se de uma herbácea trepadeira perene e monoica, que gosta de solos húmidos e azotados e medra favoravelmente entre os 13 e os 28 graus centígrados. Não resiste a geadas nem a grandes ventanias.
Possui caules híspidos que podem atingir mais de 10 metros de comprimento, dotados de gavinhas fendidas que surgem nos respetivos nós e se agarram a qualquer suporte. As folhas são inteiras, cordiformes, alternas, ásperas e pecioladas com nervações de três a cinco lóbulos. As flores, de amarelo suave ou esverdeado, são pequenas e aparecem nas axilas das folhas. Como a espécie é monoica, a mesma planta reúne flores masculinas aos cachos e flores femininas isoladas.
Os frutos são indeiscentes. Consoante as variedades, ficam redondos ou piriformes, verdes escuros, verdes-suaves ou amarelos. Pesam em média 500 g, mas alguns chegam a atingir 2 Kg. A casca pode ser lisa ou rugosa com frágeis espinhos. Cada planta produz, em média, cerca de 80 frutos.
Só existe uma semente por fruto, ao contrário das outras cucurbitáceas. A semente é achatada, oblonga, lisa e envolvida em polpa sucosa, germinando através de dois grandes cotilédones. É muito difícil extirpá-la.
As raízes são fibrosas. Nos climas quentes geram tubérculos ricos em amido.
É na gastronomia que o chuchu tem a sua maior utilidade e não só os frutos. Também as folhas tenras, os rebentos jovens e os tubérculos podem ser consumidos. Os frutos têm sabor suave e característico, substituindo, quando cozidos, a batata, a curgete e o nabo. Há também quem, com eles, confecione deliciosas compotas.
Os chuchus são ricos em fibras, aminoácidos, vitamina C, provitamina A, cálcio, magnésio, fósforo e sobretudo potássio. Desprovidos de gordura, integram plenamente as dietas de emagrecimento.
Possuem propriedades diuréticas, anti-inflamatórias, cardiovasculares e estimulantes do apetite. Dizem que favorecem a lactação e ajudam a debelar as constipações. Em cataplasmas, limpam e amaciam a cútis e o couro cabeludo.
Com as folhas pode-se fazer uma tisana que é boa para a arteriosclerose, a hipertensão e a dissolução dos cálculos renais.
Para terminar, acrescente-se mais uma curiosa utilidade conferida a esta planta: os habitantes dos países tropicais esfiapam os caules secos para, artesanalmente, fabricarem apreciados chapéus de palha.
Miguel Boieiro
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