Os amantes da Arrábida, que procuram com deleite os encantos desta bela serra durante todo o ano, encontram já em fins de fevereiro, nas cercanias de Azeitão, a borragem florida. Indubitavelmente, dos azuis mais vistosos que a natureza ostenta, em forma de estrela e aos cachos, as flores de borragem têm inspirado artistas desde remotas eras. E se em terras mais frias a floração só acontece lá para os meses de maio ou junho, na Arrábida ela vem muito cedo, brindando as abelhas que a buscam com avidez para produzir o maravilhoso néctar.

A Borago officinalis é uma herbácea anual da família das Borragináceas, cujo porte majestoso se eleva por vezes a 60 cm do solo se este for rico em húmus e o local soalheiro. A planta apresenta-se simples ou ramificada, com caule cilíndrico e grandes folhas enrugadas de forma elíptica e pecíolo curto. Tanto o caule como as folhas estão cobertos de pêlos que se transformam em finos espinhos à medida que a planta atinge maturidade. As flores, possuindo longos pecíolos, são de um azul muito vivo e abrem em estrela, como já se disse. Têm cinco pétalas ligadas entre si com anteras pontiagudas de cor escura.

Segundo se julga, a borragem é oriunda da região mediterrânica. No nosso país é frequente em terrenos incultos, suportando altitudes até aos 1800 metros. Em França há quem a cultive nas hortas como planta comestível, quando as suas folhas tenras ainda se encontram desprovidas de espinhos. Fica bem, quer na confeção de sopas, quer na preparação de saladas onde o seu delicado sabor a pepino se sobrepõe. As flores podem ser também utilizadas em culinária pelo seu aspecto agradavelmente decorativo.

Brendan Lehane, na obra «The Power of Plants», aponta uma curiosa associação entre a borragem e o morangueiro. Segundo este autor, a presença da borragem incrementa extraordinariamente a produção de morangos.

No que respeita à fitoterapia,a borragem é uma das plantas mais aconselhadas. A sua composição química integra mucilagens, nitrato de potássio, tanino, saponósidos, resinas e vitamina C.

É extremamente eficaz para combater as bronquites, os resfriamentos e as tosses rebeldes. Como sudorífico é utilizado desde tempos muito antigos, tendo portanto, ação benéfica sobre os rins e a pele. Além disso, a planta é também diurética, emoliente, expectorante e peitoral. O «chá», que deve ser tomado bem quente e adoçado com mel, prepara-se a partir de 30 g de flores, ou 50 g de folhas e caules, para um litro de água. Convém tomar-se várias chávenas por dia no intervalo das refeições. De preferência devemos usar a planta verde, pois desta forma, possui muito mais princípios ativos.

Outra maneira de usar a borragem é através de cataplasmas das folhas finamente migadas que atuam como calmante e descongestionante para queimaduras, abcessos, gota e reumatismo.

Finalmente, referimos ainda as potencialidades da borragem na cosmética, visto possuir as mesmas propriedades do pepino para limpar e tonificar a pele. O suco, que é bastante abundante, desimpede os poros da epiderme, dilatando-os e oleando-os. Para confecionar máscaras faciais é ótimo, dado ser mais suportável para cútis delicadas do que muitos outros preparados.

Miguel Boieiro

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