Por tudo isto, achei por bem convidar a própria Maria Delfina Gama para responder a algumas questões elaboradas por mim, no sentido de dar a conhecer, aos caros leitores deste Blog, um pouco mais sobre si e de qual tem sido, afinal, a sua experiência na área de Hotelaria e Restauração, mas também ao nível do desenvolvimento do Turismo em Portugal, agradecendo, desde já, todo o seu tempo despendido:
1. Tendo em conta o seu valioso currículo, como é que foi chegar ao cargo de Diretora de um Hotel?
Maria Delfina Gama: Eu costumo dizer que não tenho sonhos, sempre tive e tenho objetivos a atingir: chegar a Diretora de Hotel foi um dos objetivos que tracei muito cedo, ainda jovem, passei por todas as secções de um hotel, não foi fácil. Ao contrário do que muitas pessoas que conheço há poucos anos pensam (e mesmo algumas que me conhecem desde sempre) não foi fácil nem para mim nem para os meus cinco irmãos passar ano após ano, nas férias de Carnaval, Páscoa, verão entre outros períodos em que não tínhamos aulas a lavar talheres, loiça, tachos/ panelas e a ajudar no que fosse preciso… a esses períodos acrescento a maior parte dos fins-de-semana altura em que havia sempre muitos eventos, nomeadamente, casamentos. Atingi o objetivo com muito esforço e muita disponibilidade (devo realçar que, muitas vezes, a contragosto).
2. Mas quais deverão ser as verdadeiras valências de um bom diretor de hotel?
Maria Delfina Gama: As verdadeiras valências de um bom diretor de hotel não se aprendem em nenhuma escola, falo, por exemplo, da paixão pela profissão, do bem servir, da tentativa de chegarmos ao serviço de excelência. Foi-nos ensinado que devíamos ter orgulho em servir, servir com qualidade e nunca defraudar as expetativas dos Clientes. Paixão + bem servir são os ingredientes mais importantes para o sucesso na profissão. E isto não se aprende no exercício de funções em 2,3,4 ou 5 anos…demora muito mais tempo do que isso. Costumo dizer que um diretor de hotel é: “(…) é um chefe de família de uma que nunca vai ser a sua; é um poderoso observador que nunca vai poder falar de uma parte que observa e se obrigado a tomar medidas drásticas sobre a outra parte que observa; é uma pessoa que se vê obrigada a aprender tudo o que é inerente à sua profissão e de muitas outras para conseguir exercer a função (…). Ainda que forme o mais bem possível todos ao serviço, numa falha seja de que natureza for é sempre o apontado como responsável ainda que tudo tenha feito para resultados contrários aos obtidos. É o responsável de uma cadeia sem grades cujas saídas precárias obrigam a um contacto permanente e que tem que evitar vida pessoal (…). Obrigatoriamente acaba por ter conhecimentos de muitas outras áreas como matemática, psicologia, etc.” (referido no Livro O Sr Y)
3. Considera as inspeções regulares do Turismo de Portugal às unidades hoteleiras importantes?
Maria Delfina Gama: As inspeções regulares aos hotéis e similares são muito importantes, lamento que agora não sejam efetuadas como o eram há uns anos, ao contrário do que muitos pensam, essas inspeções eram uma mais-valia, uma grande segurança. Além dos mencionados deviam ser feitas aos alojamentos locais, hostels, etc, também.
4. A mão-de-obra, com tantas escolas ligadas ao turismo, agora é fácil de recrutar, correto?
Maria Delfina Gama: Na minha opinião, não, não é nada fácil. Como diz, há muitas escolas, mas não há mão-de-obra, cada vez é mais difícil encontrar funcionários com alguma formação hoteleira ou, mesmo, outras pessoas com real interesse em trabalhar nos hotéis, uma grande percentagem de pessoas que trabalham nesta área fazem-no, apenas, por que não arranjaram mais nada… somos o último recurso.
5. E o que gostava de ver mudado e como se deve trabalhar?
Maria Delfina Gama: Para já, gostava de ver regulamentada a profissão de Diretor de Hotel novamente e com os mesmos requisitos que me foram exigidos, não sei se tem conhecimento da desregulamentação? Sempre ouvi dizer que “Roma e Pavia não se fizeram num dia” o cumprimento de objetivos e rentabilização das empresas exige tempo, tempo esse que encurta a cada dia aquando de interferências de terceiros, muitos deviam estar muito atentos a estas situações. Eu trabalho com a realidade e verdade, se vejo que não há hipótese de “levar o barco a bom porto” sou a primeira a dar esta opinião sob pena de me prejudicar a nível profissional e pessoal, a título de exemplo, há bem pouco tempo aconselhei um administrador a acabar com a restauração ou a alugar ou a vender, optou pela segunda solução. Tenho muita pena que outros assim não o tenham feito, estariam muito melhor.
6. Já agora, o que é que está a achar do desenvolvimento do turismo no nosso país, nomeadamente na cidade de Lisboa? Será que existe uma prática de gestão sustentável, ou que tipo de iniciativas poderiam ser iniciadas nesse sentido?
Maria Delfina Gama: Este ano houve uma descida acentuada, não vejo melhoras num futuro imediato, infelizmente. Como vê pelas respostas anteriores, eu não quero dar respostas “politicamente corretas” ou que demonstrem algum saber em gestão (o que é essencial na nossa profissão, logo temos esses conhecimentos) nem falar em ideias ou iniciativas e porquê? Por que ao longo dos anos tenho dado o parecer a várias entidades que se fazem de cegos, surdos e mudos! Por outro lado, ingenuamente, dei muitas ideias que foram aproveitadas por terceiros como suas. Tenho o hábito de dizer que hoje, comparativamente, com há 30/40 anos temos magníficas infraestruturas, mas…
7. Entretanto, pelas pesquisas que eu fiz, eu sei que também já escreveu 2 livros, “O Sr. Y e Outros Senhores” (2013) e “Um Conto de Fadas num Inferno de Estrelas” (2015), por isso diga-me quais é que foram os seus propósitos na altura, descrevendo-me um pouco cada um deles, para os leitores deste blog ficarem também a conhecê-los.
Maria Delfina Gama: Sim, é verdade que já editei dois livros, infelizmente, não editei mais por que é bastante dispendioso e o retorno, no meu caso, não é nenhum.
O Sr Y e Outros Senhores – Hotelaria & Restauração No Seu Melhor com 376 pequenas histórias, cuja interpretação fica à consideração dos leitores, editei convicta que alguém pegaria nele e iria entender a minha mensagem, que não era mais do que a necessidade demonstrar que o bem da empresa é o bem de todos os que nela trabalham sendo imperiosa a necessidade de nunca defraudar as expectativas dos Clientes contudo, pese ter explicado a algumas pessoas, o que foi passado para o grande público é que era um género de retaliação ás entidades patronais!!! Nada mais absurdo!!! Puxando “a brasa à minha sardinha” como se costuma dizer este livro devia ser bem estudado nas escolas de hotelaria (…)
Quanto ao “Um Conto de Fadas Num Inferno de Estrelas – A Europa Aberta a ideia surgiu pelo meu constante descontentamento das fronteiras abertas. A segurança é muito importante, sempre viajei e nunca tive quaisquer problemas nas fronteiras, hoje temos tudo, não há necessidade de se ir a Espanha buscar isto ou aquilo… quer dizer, na verdade, quem vai buscar gás pela disparidade de preço talvez não o pudesse fazer, mas a gasolina seria igual… Por mero acaso dou como exemplo o transporte de droga, mas poderia ser outro produto qualquer, aproveitei para falar em imensos locais de Portugal, Espanha, Andorra e Itália. 80% é em Itália que eu conheço bem e merecem ser visitados.
Uma ficção que muitos leitores adoraram e aguardam o segundo volume.
8. Por acaso acreditava em contos de fadas quando era criança?
Maria Delfina Gama: Tinha feito 5 anos em Abril e entrei nesse ano na escola primária, comecei a ler muito cedo livros Anita, dos 5, dos 7 Enid Blyton, Clarissa do Érico Veríssimo, Pearl Buck, Agatha Christie, etc. que me permitiam viajar, mas nunca acreditei em contos de fadas! Talvez, por que, no dia-a-dia nos faziam sentir bastante o esforço que existia para podermos ter tudo, o que na verdade sempre tivemos.
9. E por quantas pessoas Y é que já se cruzou por aí?
Maria Delfina Gama: Já me cruzei com muitas pessoas Y, mas seria muito injusto dizer que no grupo Y são todas iguais. Não corresponde à verdade. Existem pessoas Y, por estranho que pareça, de quem gosto bastante…
10. Afinal, o que é que significam, para si, as palavras “Braga” e “Ericeira”?
Maria Delfina Gama: Braga significa berço, casa, Família, escola, grandeza… Ericeira significa paz, liberdade, trabalho…
11. No que diz respeito à culinária, quais é que foram os melhores pratos que já lhe serviram até hoje e onde?
Maria Delfina Gama: Não quero correr o risco de não mencionar alguns locais pelo que se não se importa preferia, talvez, dizer quais os restaurantes que mais gosto em Braga e na Ericeira?
Em Braga, Trotas Restaurante, em especial as Francesinhas e Papas de Sarrabulho, Restaurante Paulo Padeiro, em especial Cabrito no Forno, Restaurante Victor em São João de Rei, Bacalhau Assado é excecional… Na Ericeira Restaurante Gafanhoto que tem todos os dias pratos caseiros excelentes como o Cozido à Portuguesa, Tik Tapas e Tik Tak … restaurantes abertos há décadas com um serviço de excelência.
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