Não sei se já repararam que os seres vegetais são, de diversas maneiras, o nosso amparo, o nosso sustento e constituem os elementos primordiais do nosso equilíbrio físico, psíquico, emocional e espiritual, enquanto vamos esperneando neste vale de lágrimas desde o berço ao caixão. Acham que exagero? Ora pensem bem no que a humanidade retira para seu proveito das ervas, arbustos e árvores sem nada lhes dar em troca. Se proliferam associações de amigos dos animais, por que não as de amigos dos vegetais para os compreender, proteger e estimar? 

Esta reflexão surgiu-me de supetão quando, em julho de 1997, andei a pé nas montanhas do Atlas até chegar ao cume do Tubkal. Foram 140 quilómetros caminhando e fruindo paisagens inesquecíveis. Só que, em determinada altura, fui-me abaixo. Uma dor persistente na perna direita tolhia-me a passada. Pensei em desistir, todavia ao atravessar uma floresta de nogueiras, colhi um ramo e com ele amanhei um cajado. Como por milagre, restabeleci-me e retomei a marcha devido àquele bordão improvisado ao qual devotei mil agradecimentos.

Eis pois o introito para discorrer sobre a nogueira, árvore de madeira dura e flexível, que dá pelo nome científico de Juglans regia e pertence à família das Juglandaceae. Sendo nativa da região balcânica, tem hoje um vasto habitat desde a China à Califórnia. É caducifólia e de crescimento rápido, podendo atingir 35 metros de altura. O seu robusto tronco pode superar 2 metros de diâmetro. As folhas são alternas, imparipinuladas (folíolos articulados lateralmente) e estipuladas (apêndices da base do pecíolo), começando por ser bronzeadas no início e depois, verde-escuras. Os ramos são grossos e a copa ampla e arredondada. 

Sendo uma espécie monóica as flores, dispostas em amentilhos, apresentam os dois sexos. As masculinas, pendentes nas axilas nos ramos do ano anterior, são em maior número como aliás, acontece geralmente com todos os seres vivos (existe um só óvulo e numerosos espermatozoides). As femininas, mais escassas, surgem nos ramos formados no próprio ano. Toda a gente conhece o fruto que é uma drupa subglobosa de cor verde que enegrece quando cai. No interior da noz, o miolo está dividido em quatro lóbulos de forma cerebroide.

As nogueiras detestam a poda e as suas raízes contêm uma substância abundante (juglona) que produz alelopatia, ou seja, inibem o desenvolvimento de outras plantas para reduzir a concorrência dos restantes vegetais. Tal fenómeno ocorre também com os eucaliptos.

As nozes são muito nutritivas contendo cerca de 60% de gordura composta por ácidos gordos insaturados, 15% de proteínas, vitaminas do complexo B, C e P, caroteno, cálcio, fósforo, zinco e cobre. As folhas integram tanino, ácidos gálico e elágico (propriedades antioxidantes) e juglona (princípio activo). Também o pericarpo da casca das nozes verdes (nogalina) é importante em fitoterapia, dado a sua riqueza em taninos de boa qualidade.

São imensas as propriedades curativas da nogueira: adstringente, antisséptica, cicatrizante, depurativa, tónica, diurética, vermífuga, hipoglicemiante (reduz o açúcar no sangue), etc.

O infuso das folhas e das cascas verdes é aconselhável para diabetes, fígado, reumatismo, raquitismo, obesidade e parasitas intestinais (10 a 20 g por litro de água). Externamente, em decocção (100 g por litro de água), para problemas cutâneos, queda do cabelo, caspa, conjuntivite, hemorroidal, uretrite, cistite. Em gargarejos, para irritações da boca, garganta e faringite.

A ingestão do miolo das nozes, para além de constituir um alimento saboroso utilizado desde há 9 mil anos, pode vantajosamente substituir a carne pelo seu conteúdo proteico. Favorece a memória e é útil para combater o esgotamento, os transtornos do sistema nervoso e o colesterol LDL.

Na gastronomia, as nozes são um ingrediente de luxo, quer para entradas, sopas, pratos principais ou sobremesas. Quando passo por Coimbra nunca me esqueço de entrar num estabelecimento na rua da Sofia que vende, ao peso, um delicioso bolo de nozes (passe a publicidade).

Convém que as nozes sejam guardadas ao abrigo do calor e da luz porque a sua gordura rança facilmente. Quando ingeridas devem ser bem mastigadas e ensalivadas. De notar, no entanto, a incompatibilidade que podem ter face aos remédios que contenham sais de ferro e determinados alcaloides.

Finalmente, há que referir a excelência da madeira com agradáveis tons avermelhados, brilho natural e textura homogénea, tenaz e resistente. Ela é utilizada em marcenaria de alto valor e muito adequada para polimentos. A este propósito, lembro a recente visita efetuada à catedral nova de Salamanca, cujo riquíssimo cadeiral está todo manufaturado em madeira de nogueira. Lindo!

Miguel Boieiro

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