Desde muito cedo que eu tenho um grande fascínio por tudo o que tem a ver com trabalhos manuais e afins. É que, para além da minha mãe me ter dado, logo durante a minha mais tenra idade, todos os ensinamentos necessários de forma a saber cuidar, um dia mais tarde, de toda uma família e de uma casa, eu sempre gostei muito de ocupar os meus tempos livres de escola a cozinhar, a bordar ponto de cruz, a fazer um naperon de renda, a pintar em cetim, a construir um quadro com um certo trabalho em escamas de peixe, a pintar um quadro em óleo, etc.
Lembro-me que também adorava (e ainda adoro!…) enfeitar uma mesa de Natal, ou da Páscoa, com um bonito centro de mesa, entre outros tipos de acessórios, com vários materiais que encontrava até pelo quintal dos meus pais, para depois ajudar a minha mãe a dar as boas vindas aos convidados com uma ou outra iguaria!
E foi por esta razão que a Cristina me conseguiu atrair, desde logo, para os seus trabalhos em feltro expostos através do seu blog Coisas de Feltro!
Tal como poderão verificar aqui, os seus trabalhos são de uma grande criatividade e qualidade, uma vez que eu própria já experimentei a fazer-lhe uma encomenda (primeira imagem deste texto), tendo ficado realmente satisfeita com o que recebi em mãos!
Portanto, lembrei-me de lhe propor também uma certa entrevista, para de alguma forma a ajudar a partilhar o seu projeto, porque, na minha opinião, é preciso agir, comprometendo também outros a seguirem os seus próprios sonhos e aspirações, porque a vida passa, mas as nossas ambições poderão dar fruto, se porventura as tentarmos levar até ao fim, não concordam?
1) Antes de iniciar esta nossa conversa, quero desde já agradecer-lhe o seu tempo despendido, começando por lhe perguntar o porquê do nome do seu blog, “Coisas de Feltro”?
Cristina: Eu é que agradeço e passo a explicar o nome. O blog vem na sequência da criação da minha marca. Na altura, estávamos em 2010, comecei por trabalhar somente o feltro e procurava um nome representativo daquilo que fazia mas que fosse abrangente. Daí surgiu simplesmente “Coisas de Feltro”. Comecei por mostrar o meu trabalho no Facebook mas quis construir um blog que também servisse para divulgação da marca. Claro que com o tempo tive vontade de partilhar no blog muito mais do que as peças que fazia (que entretanto já não eram só em feltro) e hoje o blog já sofreu muitas transformações e cresceu noutras direcções, até porque não quero partilhar conteúdo que seja apenas uma repetição do que coloco nas outras redes sociais onde Coisas de Feltro se encontra.
2) Algures, nesse mesmo blog, afirma que “nasci em Lisboa numa época em que a cidade não estava na moda e tenho múltiplos interesses”, por isso, eu pergunto-lhe: por um lado, o que acha da Lisboa atual, e por outro lado, quais é que são os seus reais interesses?
Cristina: Lisboa está mais bonita, nisso acho que todos concordamos. Havia locais onde uma pessoa tinha medo de andar à noite e hoje já não é assim. E claro que se deve em grande parte ao turismo, a este abrir da cidade aos outros. Como consequência, é lógico que o preço da habitação sofreu um aumento repentino, com tudo o que isso representa. São as várias faces desta popularidade que Lisboa disfruta no momento, uma cidade não muito grande onde se permite andar a pé e percorrer ruas e ruelas mas também com cada vez mais oferta cultural. Tudo isto para dizer que amo a minha cidade.
Quanto aos meus interesses… eles são tantos que a pouco e pouco lá os vou mostrando no blog. Por isso ao fim de um tempo deixou de fazer sentido limitá-lo a um só tema. Vou um bocado ao sabor da inspiração: se, por um lado, gosto de partilhar uma receita de um bolo que faço e que costuma sair bem, por outro também gosto de mostrar algum lugar onde fui e que se revelou uma enorme surpresa para mim, ou que já conhecia e que pretendo dar a conhecer a mais pessoas. Nasci na cidade mas adoro o campo e a praia por isso estes lugares são presença constante no blog. No fundo tanto posso partilhar um lugar, como um evento desde que me façam sentido e me dêem prazer na partilha. Aliado a isto, a minha paixão pela fotografia outdoor, uma outra forma de comunicar.
3) Já agora, o que é que lhe serve de inspiração e qual foi aquele trabalho que mais gostou de fazer até hoje?
Cristina: Ao princípio a inspiração eram os meus filhos, ainda eram pequenos, principalmente a mais nova acabava sempre por ficar com a primeira peça que eu fazia (geralmente menos perfeita). Eles agora já estão crescidos mas continuam a inspirar-me e a incentivar-me imenso a continuar, os meus filhos e o meu marido, claro. Não consigo destacar um trabalho que mais tenha gostado de fazer. Destaco o desafio que foi fazer o ano passado, o fantoche do D. Afonso Henriques, personagem principal do livro de Sandra Catarino “Isto não é uma história sobre Afonso Henriques”. Pela carga simbólica que continha e pelo sentido de responsabilidade que senti emergir.
De resto, alguns foram mais difíceis, outros mais desafiantes mas a grande reviravolta deu-se quando comprei a máquina de costura. Ficou dois meses dentro da caixa, até tinha medo de lhe pegar. E após esse período foram muitos dias, muitos mesmo, gastos a aprender e também muito material deitado para o lixo. Embora na casa dos meus pais me tenha habituado a ver (e a ouvir) a máquina de costura a trabalhar, nunca senti essa vontade de costurar, até ao dia em que essa paixão veio e se instalou. Feltros e tecidos exigem técnicas diferentes mas igualmente desafiantes.
4) Também reparei que gosta de partilhar, com o seu público, alguns pensamentos e reflexões, por isso, se ser artesã é ser uma artista apaixonada pelo que faz à mão, uma pessoa detalhista e de coração cheio, como é que vai o artesanato em Portugal e se desde a época em que começou a fazer as suas criações, se se modificou para melhor, já que, digamos, “Portugal está na moda”?
Cristina: Quando comecei não havia tanta marca assim, a partir de uma certa altura, começaram a aparecer muitas pessoas a trabalhar nesta área. Algumas como complemento à actividade principal, outras como meio de subsistência. Muita gente pelo meio acabou por desistir e o que tenho reparado é que começa a aparecer uma certa industrialização do conceito artesanal. Talvez explicando melhor: nas lojas com artigos vindos de fora, muitas vezes vemos à venda peças com um visual mais próximo do artesanal, não o sendo de todo. Por cá, vemos pessoas que evoluíram bastante e que têm produtos verdadeiramente bem confeccionados e com óptima qualidade.
5) Por acaso também costuma participar em algum tipo de feiras ou eventos ligados ao Artesanato e/ou como é que poderemos contactá-la para fazer algum tipo de encomenda?
Cristina: Não participo em feiras, mas quem me quiser contactar poderá fazê-lo através de mensagem na página de facebook ou enviando um mail. No caso de uma encomenda, os pormenores serão todos analisados, pois praticamente não há duas peças iguais, o cliente tem oportunidade de escolher pormenores e tecidos para que tudo fique ao seu gosto. Também costumo ter em stock uma pequena quantidade de artigos, prontos a enviar.
6) Já agora, que tipos de produtos é que costumam ter mais saída e aceitação por parte do seu público e com que tipo de materiais é que costuma mais trabalhar?
Cristina: Sardinhas e andorinhas de tecido são já um clássico. Móbiles em feltro personalizados são também muito pedidos (foi mesmo por aqui que comecei). Bonecas de pano têm também óptima aceitação e costumam ter pormenores escolhidos pelos clientes. Mas também brindes de aniversário, de Natal, de baptizado… para comemorações diversas.
7) Eu, particularmente, como já tive ocasião de lhe dizer, gosto muito dos seus trabalhos, mas diga-me, também gosta de cozinhar, correto? E será mais à base de doces ou de salgados? E será que pratica algum tipo de dieta em especial?
Cristina: Excluindo as refeições que tenho que fazer diariamente para a família, sou muito mais de fazer doces, sem dúvida. Na alimentação, não cometo excessos. Como o mínimo de doces e faço uma espécie de dieta pobre em hidratos de carbono e rica em vegetais. De resto, acredito que uma alimentação o mais saudável possível, com produtos pouco industrializados e sem químicos, será a resposta se queremos ter qualidade de vida.
8) Para terminar, e como já nos encontramos no ano de 2019, quais são as suas resoluções para este ano?
Cristina: As minhas resoluções para este ano vêm na continuidade das dos anos anteriores: fazer sempre mais e melhor e agarrar as oportunidades que entretanto forem surgindo.
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Gostei muito da entrevista. Obrigada Beijinhos
Obrigada eu pelo tempo despendido e boas continuações para o projeto que vale a pena ser divulgado!
Mónica Rebelo do blogue Cozinha Com Rosto.