Bacalhau à Gomes de Sá é um dos pratos tradicionais da culinária portuguesa que recebe o nome do seu próprio criador, da autoria de José Luís Gomes de Sá Júnior, que nasceu no Porto a 7 de Fevereiro de 1851 e que faleceu no ano de 1926. 
Negociante de bacalhau, sediou o seu negócio num armazém da Rua do Muro dos Bacalhoeiros, na Ribeira do Porto, tendo vendido a receita ao seu colega e amigo João, cozinheiro do Restaurante Lisbonense, localizado na Travessa dos Congregados, na cidade do Porto

A receita original propõe que o bacalhau seja cortado em pequenas lascas amaciadas em leite durante cerca de uma hora e meia a duas horas e que seja cozinhado com azeite, alho, cebola, acompanhado com azeitonas pretas, salsa e ovos cozidos.
Já agora, sabiam que o bacalhau à Gomes de Sá foi um dos candidatos finalistas às 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa?

Este é então um prato originário e típico da cidade do Porto, normalmente acompanhado com Vinho verde tinto ou Vinho do Douro tinto, sendo ao mesmo tempo de preparação relativamente simples e rápida.
Por ser muito apreciado, é um prato que tem também impacto em todo o território português, bem como no Brasil, graças à imigração portuguesa pós-colonial, sobretudo depois dos meados do século XIX

Tais portugueses, vindos maioritariamente do norte daquele país, trouxeram consigo a sua rica gastronomia, de tal modo que este e outros pratos de bacalhau-do-atlântico (Gadus morhua) são consumidos no Brasil (em que o azeite também é um componente omnipresente nessas receitas gastronómicas), como herança cultural das povoações do Norte de Portugal

Por essa razão, o Consul do Brasil no Porto, em 1988, João Frank da Costa, decidiu homenagear o criador da receita, José Luís Gomes de Sá Júnior, mandando colocar uma placa na parede da casa onde nasceu, na Rua do Muro dos Bacalhoeiros. 
Em vários mercados do Brasil, o bacalhau é vendido como Bacalhau do Porto, devido a esta história relacionada com o Bacalhau à Gomes de Sá, o que, muitas vezes, confunde as pessoas, que acabam por pensar que o bacalhau é pescado no Porto.

 A receita original de José Luís Gomes de Sá

Gomes de Sá era um comerciante da cidade do Porto nos finais do século XIX. A ele, se deve esta receita de bacalhau que terá sido criada com os mesmos ingredientes (à exceção do leite) com que, semanalmente, fazia os bolinhos de bacalhau que deliciavam os amigos. 

Com efeito, os ingredientes são os mesmos, mas a receita resulta de uma confeção mais cuidada e de maior requinte, suprimindo a farinha, escalfando o bacalhau no leite, realçando o gosto com a cebola alourada às rodelas e passando o ovo a ser cozido. 
E a mistura dos vários elementos com azeite e a ida ao forno para homogeneizar os sabores concebeu um novo prato: o «Bacalhau à Gomes de Sá».

Alguns conselhos úteis:

  • Devem-se escolher alhos, batatas, cebolas, salsa e azeitonas de boa qualidade: caseiros ou de agricultura biológica, de crescimento lento. Bem como ovos de galinhas caseiras ou de agricultura biológica.
  • Deve-se também escolher leite magro e não leite meio-gordo ou leite gordo, para não ser enjoativo, no amaciamento das lascas de bacalhau.
  • O bacalhau tem de ser sempre bacalhau-do-atlântico, Gadus morhua, de postas grossas, de salga lenta e cura amarela.
  • O azeite deve ser de muito boa qualidade para se obter o sabor original da receita, que tem sido desvirtuada nas últimas décadas, pela maioria dos restaurantes, com receitas que se afastam da original e/ou que utilizam ingredientes com pouco qualidade orgânica, bem como são muitas vezes publicitadas nos «mass media» e nas redes sociais, levando o consumidor comum a confundir essas falsas receitas.

Ingredientes (segundo a receita original de José Luís Gomes de Dá Júnior):

  • postas de bacalhau demolhado
  • batata
  • dentes de alho
  • cebolas
  • ovos cozidos
  • azeite q.b.
  • salsa q.b.
  • azeitonas pretas a gosto
  • leite magro q.b.

Confeção (segundo a receita original de José Luís Gomes de Sá Júnior):

Pega-se no bacalhau demolhado e deita-se numa caçarola. 
Depois, cobre-se tudo com água a ferver, e, depois, tapa-se com uma baeta grossa ou um pedaço de cobertor e deixa-se, então, assim, sem ferver, durante 20 minutos.  

A seguir, ao bacalhau que está na caçarola e que devem ser 2 quilos pesados em cru, tiram-se-lhe todas as espinhas e faz-se em lascas e põe-se num prato fundo, cobrindo-se com leite quente, deixando-o, em infusão, durante uma hora e meia a duas horas. 
Depois, em uma travessa de ir ao forno, deita-se três decilitros de azeite fino do mais fino (isto é essencial), quatro dentes de alho e oito cebolas a alourar.  
Ter já dois quilos de batatas (cortadas, à parte, com casca) às quais se lhes tira a pele e se cortam às rodelas da grossura de um centímetro e bota-se as batatas mais as lascas do bacalhau, que se retiram do leite.  

Põe-se, então, na mesma travessa, no forno, deixando-se ferver tudo, por dez a quinze minutos. 
Serve-se, na mesma travessa, com azeitonas grandes pretas, muito boas, e mais um ramo de salsa muito picada e rodelas de ovo cozido. Deve-se servir bem quente, muito quente.”

A receita é retirada de um manuscrito, atribuído ao próprio José Luís Gomes de Sá, que teria vendido a receita a um seu colega e amigo, João, cozinheiro do Restaurante Lisbonense, localizado na Travessa dos Congregados, na cidade do Porto, com a deliciosa nota: “João, se alterar qualquer coisa, já não fica capaz“. 
O aviso de que “Deve-se servir bem quente, muito quente” também tem de ser sempre, impreterivelmente, cumprido, para que o prato tenha qualidade!

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