Quando excursionamos por terras distantes, novas sensações sucedem-se em catadupa. Se não tirarmos fotografias ou redigirmos diários, as imagens que sucessivamente nos chegam à retina acabam por se sobrepor umas às outras e mais tarde já não nos lembramos de todos os detalhes que presenciámos. Contrariamente ao que se diz, o saber ocupa lugar. A quantidade, ou melhor a variedade das sensações que nos surgem por via visual ou auditiva tende a esgotar a nossa capacidade de retenção. Naturalmente que, do todo que nos é dado presenciar, fica na memória só o que mais nos surpreendeu, quer pela sua originalidade, quer pelo seu ineditismo. Esta conversa vem a propósito de uma viagem que fizemos à Ucrânia há 40 anos, país que, nessa altura integrava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Ao chegarmos a Kiev, vimos monumentos, igrejas, empresas agroalimentares, pessoas simpáticas e belas paisagens, mas se hoje nos perguntarem qual a imagem mais nítida que guardamos no baú da memória, nessa primavera já distante, perfila-se na nossa mente a encantadora avenida Kreshatik, bordejada de altas árvores pejadas de cachos com flores brancas, rosas e vermelhas.

Tais árvores, especialmente fascinantes na primavera, eram e são os castanheiros-da-índia, cientificamente denominados Aesculus hippocastanum L, que ornamentam muitos parques e jardins citadinos, inclusive na nossa Lisboa.

São árvores muito robustas que integram a família das Hipocastanaceae e logram atingir 40 metros de altura, formando belas copas abobadadas. Contrariamente ao que o seu nome indica, elas parecem ser originárias da região europeia compreendida entre o Cáucaso e os Balcãs. A designação científica é composta por “aesculus” que significa azinheira ou fagácea, “hippos” que evoca os cavalos, na suposição de que os frutos poderiam alimentar os equídeos e ”castanum”, devido à semelhança com os frutos comestíveis da Castanea sativa. Todavia, não devemos confundir as respetivas castanhas porque as do castanheiro-da-índia são muito amargas e algo tóxicas. Quando as trouxemos pela primeira vez, seguimos uma recomendação, que ainda não achámos nos livros: a de as depositar dentro dos armários para afugentar as traças.

O castanheiro-da-índia possui tronco ereto e desenvolve ramagens que formam uma estrutura piramidal. As folhas são caducas, grandes (de 30 a 50 cm), opostas, pecioladas, palmadas e divididas de 5 a 7 folíolos, simulando os dedos da mão. Das flores, já mencionámos que formam atraentes cachos. Os frutos são cápsulas espinhosas que, ao amadurecerem, deixam cair, uma só semente.

Estão registadas muitas propriedades medicinais atribuídas a esta árvore ornamental, por via dos seus numerosos constituintes ativos: taninos, amidos, saponósidos, pectina, potássio, cálcio, fósforo e óleo. O que parece ser mais determinante é uma saponina triterpénica, denominada escina.

A farmacopeia extrai laboratorialmente vários elementos para a preparação de diversos remédios aplicados para as insuficiências venosas: varizes, flebites, equimoses, hemorroidas e para facilitar a circulação sanguínea. Alguns extratos denotam atividade anti-hemorrágica e hipoglicémica que poderão contribuir para o tratamento da diabetes.

Certos autores referem a confeção de uma pomada para utilizar externamente a fim de aliviar os transtornos provocados pelas varizes. Outros enumeram vários usos homeopáticos para os problemas circulatórios. Na Turquia reduzem estas castanhas a pó para tratar as doenças pulmonares e as fragilidades capilares. O óleo extraído das castanhas-da-índia entra no fabrico de muitos cosméticos para proteção da pele e do couro cabeludo.

Para terminar, não poderei deixar de recomendar a todos os interessados, a leitura do “best-seller” do americano James A. Duke, denominado “A Farmácia Verde – Herbário Prático” que, para além dos usos terapêuticos, menciona as opções de dosagem e as precauções (níveis de segurança) a seguir com as drogas provenientes do castanheiro-da índia.

Miguel Boieiro

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